ENTREVISTA COM NATHALIA ARCURI

Sobre a Nathali Arcuri

Atualmente, Nathalia Arcuri é uma das três mulheres mais influentes do Brasil (segundo pesquisa IPSOS 2022). A CEO e fundadora da Me Poupe!, primeira e maior plataforma de entretenimento financeiro do mundo, é formada em jornalismo, especializada em planejamento financeiro pelo INSPER e criadora de um método de planejamento financeiro que já impactou mais de 450 mil alunos.

Em 2014 ganhou o prêmio máximo de planejamento financeiro do Brasil pelo Instituto Planejar. Foi a única influenciadora brasileira a ser convidada para o Fórum Econômico Mundial 2020, em Davos, e no ano seguinte, uma das únicas mulheres nomeadas pelo órgão como membro do programa Young Global Leader, da turma de 2021. É autora de dois livros que já venderam mais de xxx milhões de cópias, diretora de conteúdo das plataformas digitais do Me Poupe! e atualmente, também assina a coluna Eu, Chefe de Mim, escrita mensalmente para a Exame, um dos principais veículos de negócios do país.

1. Quando e como aconteceu seu interesse por finanças?

Aos sete anos de idade, descobri que uma colega de classe tinha ganhado uma poupança do pai, que aplicaria uma certa quantia de dinheiro todos os meses até que ela completasse dezoito anos e pudesse comprar um carro. A partir daí, comecei a juntar todo dinheiro que podia, já que diferente da minha colega eu não tinha uma poupança criada pelos meus pais. Não ganhava mesada, mas guardava o dinheiro do lanche, quando tinha. Em vez de brinquedos, pedia dinheiro de presente de aniversário e no Natal. Na adolescência, comecei a usar a criatividade pra engordar o cofrinho: foi das blusas de tie-dye e pulseirinhas artesanais a figurante em propagandas para ganhar mais dinheiro! Assim, aos 17, já tinha acumulado R$ 6.800,00, o equivalente a R$ 21.000,00 nos dias de hoje. Algum tempo depois, em janeiro de 2014, meu casamento de sete anos chegou ao fim e eu me vi diante de uma sugestão do meu ex-marido de vender o apartamento, cada um ficando com a sua parte.  Nós dois tivemos a mesma participação na compra e reforma do apartamento que foi adquirido à vista na planta, oito anos antes, com 15% de desconto (a melhor negociação da minha vida). Vender aquele imóvel significava voltar para a casa dos meus pais e perder a minha liberdade. Além disso eu decorei cada canto, paguei tudo à vista… eu amava aquele lugar.

Eu disse a ele depois de dar aquela verificada básica nos meus investimentos cuja rentabilidade, na época, não chegava aos pés da minha carteira atual, que gostaria de comprar a parte dele. Detalhe: O imóvel se valorizou e dobrou de preço naqueles oito anos, o que fez com que a minha metade custasse mais do que pagamos pelo imóvel juntos. Mas te garanto: foi barato perto da sensação de liberdade proporcionada pela disciplina que eu adquiri com o dinheiro desde a infância.  Foi aí que o tal click do propósito aconteceu. Já atuando na carreira jornalística, fui escalada para fazer uma reportagem sobre violência doméstica e cheguei a um dado que até hoje me arrepia só de pensar. 70% das mulheres que se submetem a relacionamentos abusivos permanecem sob o teto do agressor porque são dependentes financeiramente. E mais: a cada sete segundos uma mulher é vítima de agressão no Brasil.

Abalada pela imagem da mulher agredida que precisou sair às pressas com os filhos para um abrigo sob ameaça de morte do parceiro, eu prometi pra mim mesma que dedicaria todos os dias da minha vida a proporcionar aquele momento de liberdade pra quem mais quisesse ou precisasse.  Até então eu não sabia o que era propósito. Naquele momento, eu descobri. Claro que passei a estudar ainda mais sobre investimentos e finanças com o objetivo de compartilhar o meu conhecimento com outras mulheres e pessoas de forma geral, para que ninguém precisasse mais se submeter a situações de abuso por dependência financeira. Foi assim que decidi criar o blog do Me Poupe!, que hoje é a maior plataforma de finanças do mundo.

2. Quem te inspirou a se tornar uma poupadora?

Desde os 7 anos comecei a juntar o meu dinheiro porque tinha o sonho de ter o meu próprio carro aos 18 anos. Quando meu pai falou “cresça e apareça” foi a virada de chave para mim na minha infância, desde então me interessei por finanças e por começar a investir. Me aprofundei nesse tema, me especializei, estudei muito e aprendi investindo o meu dinheiro e ajudando as pessoas ao meu redor com as suas finanças.  

3. Com mais de 7 milhões de inscritos em seu canal, qual a sensação de ser o maior canal de finanças do mundo?

É inexplicável. O tema educação financeira era um tabu até o início da minha trajetória empreendedora, em 2015. Meu grande objetivo naquela época era transformar esse assunto em mainstream, ou seja: Fazer com que planos financeiros, investimentos, estratégias para sair das dívidas, taxas abusivas de juros de bancos e todos os assuntos relacionados ao universo do planejamento financeiro fizessem parte do cotidiano dos brasileiros. Estamos na liderança desde 2018 quando o YouTube oficialmente confirmou que o Me Poupe! é o maior canal de finanças e empreendedorismo do mundo e sabemos que mais difícil do que chegar no topo é nos mantermos no canal com os nossos princípios e produzindo conteúdos inovadores, divertidos e educativos para milhares de pessoas.

4. Para os pequenos empresários que estão endividados, qual o primeiro passo para sair das dívidas, tornar um investidor e ter liberdade financeira? Quanto tempo leva cada processo?

O primeiro passo é separar as “vidas”. A empreendedora e o empreendedor precisam entender que o dinheiro da empresa é da empresa e que ele é um funcionário, ou seja, um custo da empresa. O grande erro cometido pela maioria dos meus alunos empreendedores é não ter um pró-labore, misturar as contas, receber um pagamento de manhã na conta PJ e pagar a conta do mercado de casa à tarde com o mesmo dinheiro. Para os empreendedores que buscam lucro e expandir faturamento, mas têm pouco ou nenhum conhecimento eu recomendo fortemente passar pelo “Eu, chefe de mim”, um treinamento que eu fiz de empreendedora para empreendedor com o passo a passo pra nunca mais faltar dinheiro no bolso de quem é chefe de sí ou de alguém.

5. Você fala muito sobre “investimentos” Ativos e Passivos. Qual a diferença e qual melhor?

Ativos e passivos financeiros têm funções distintas na vida financeira pessoal e na vida financeira pessoa jurídica. Na nossa vida financeira pessoal, Ativo é tudo aquilo que gera receita, como investimentos em Tesouro Direto, por exemplo, e passivo é tudo aquilo que, apesar de ter valor no mercado, não gera receita (dinheiro) diretamente. O carro que a família usa para ir ao trabalho, por exemplo, é um passivo.  Já na nossa vida financeira de pessoa jurídica a frota veicular que a empresa usa para fazer as entregas, por exemplo, mesmo não dando dinheiro diretamente, são considerados ativos.

6. Para o pequeno empresário é melhor financiar ou alugar uma sala empresarial? Por quê?

Tudo depende do planejamento, do tipo de negócio, da perspectiva de crescimento… O empreendedor precisa ter projeções realistas e levar a empresa na ponta do lápis para tirar conclusões que tragam benefícios a curto e médio prazo.

7. Quais os melhores tipos de investimentos para PF e ou PJ?

A primeira dica de investimento seguro para quem tem um perfil mais conservador com investimentos é abrir contas digitais remuneradas, que são carteiras que pagam, no mínimo, 100% do CDI e que você consegue mexer no dinheiro facilmente e não é porque está rendendo pouco que não é considerado, se está rendendo é um investimento. Outro tipo de investimento seguro é o tesouro selic, que é o mais indicado para reserva de emergência, já que segue a taxa selic e é o único que você pode tirar o dinheiro antes do vencimento sem correr o risco de perder dinheiro. Já o tesouro IPCA é uma boa opção para pessoas que têm planos de longo prazo, porque garante que o seu dinheiro vai ganhar da inflação todos os anos até o vencimento, mas isso funciona para quem já tem um plano futuro, por exemplo, a aposentadoria. O CDB Prefixados é um outro tipo de investimento para quem está começando, que paga o triplo da poupança e tem a garantia dos fundos de garantia de créditos.

8. Quais melhores tipos de rendas extras?

Tenho várias dicas para você ter uma renda extra no mês, mas vou listar algumas aqui que sempre falo no meu canal que é montar uma lojinha virtual em sites como OLX, Mercado Livre e grupos de Facebook, nessas plataformas você consegue vender roupas e outros objetos próprios. Outra dica é listar produtos que você pode vender, por exemplo, para se tornar uma afiliada digital de um marketplace para comercializar o produto que deseja por meio desses canais, o vendedor pode ser comissionado apenas com um clique do consumidor no seu produto.  Outra dica que gosto é hospedar cães de pessoas que viajam ou não podem ficar com seu pet em casa no dia, hoje em dia temos opções de aplicativos que oferecem esse tipo de serviço. Revender produtos de beleza, por exemplo, itens da Natura, ou utilizar aplicativos com serviços de manicures e cabeleireiras, também são ótimas opções para quem quer contar com uma renda extra todo mês.

9. Que dica você deixa para os que querem empreender?

A primeira dica é colocar tudo no papel, escrever todas as suas ideias e seguir uma linha de raciocínio, um exemplo que costumo dar por conta da minha carreira de jornalista é pensar no “lead” com algumas perguntas básicas do seu negócios, mas que já vão te ajudar a direcionar e segmentar o seu empreendimento: O quê? Quem? Quando? Como? Onde? Por que?. É importante que ao responder essas questões, você seja bem específico, destacando os principais diferenciais. Depois disso, é preciso listar todas as pessoas que possivelmente vão te ajudar a chegar onde deseja e, para isso, é importante que o empreendedor trace metas para conseguir atingir seus objetivos. O mais importante é saber fazer o approach correto, entender a outra pessoa e de que forma você pode ser interessante para que ela possa te ajudar. O próximo passo é fazer uma lista de pessoas que vão te atrapalhar, não necessariamente aquelas que farão o seu negócio não dar certo, mas sim que dizem que não vale a pena investir naquilo, ou que não acreditam no potencial do seu empreendimento, por isso é importante criarmos estratégias para nos blindarmos dessas pessoas. A última dica valiosa é se organize financeiramente e faça uma reserva de emergência de no mínimo seis meses, o mais recomendado é de um ano, mas lembrando que esse dinheiro é para você e não para sua empresa.

10. O que te motivou a realizar o Reality Me Poupe, que está em sua 3ª edição?

Nesses últimos dois anos de pandemia, sabemos o quanto o brasileiro sentiu no bolso o impacto da crise. Com a taxa de desemprego e inflação altíssimas, ficou difícil conseguir driblar as dívidas. Com o reality, quero transformar vidas de pessoas endividadas por meio da educação financeira e mostrar como é possível se organizar financeiramente. O público que assiste também consegue aprender junto com os participantes e transformar a sua relação com o dinheiro.

11. Quantas pessoas você já ajudou ao longo desses 7 anos, através do blog, canal, livro e reality?

O Me Poupe! alcança diretamente mais de 25 milhões de pessoas por mês, além de mais de 450 mil alunos já terem participado de cursos na nossa plataforma. Na pandemia,  fomos  consideradas  uma das 100 marcas mais lembradas durante a pandemia.

12. O que Nathalia faria diferente, se começasse, hoje?

Absolutamente nada. Eu amo cada erro, cada dor de crescimento, cada pessoa que passou pela empresa e me deixou aprendizados incríveis, cada dia de angústia e de vitória. Esses momentos fazem parte da empreendedora que eu sou hoje e serão fundamentais para o império de impacto social que eu e meu time estamos construindo.

13. Desde que começou a poupar, alcançou muitos dos seus objetivos na vida, como ter o primeiro carro, primeiro apartamento, programa na TV e chegar ao 5 milhões de reais em patrimônio. Quais os planos de Nathalia Arcuri para os próximos 5 anos?

O nosso objetivo é democratizar a educação financeira no Brasil e impactar positivamente cada vez mais a vida de milhões de brasileiros para que tenhamos pessoas independentes financeiramente e, para além disso, queremos que as próximas gerações cheguem aos 70 anos sem ter passado por um momento de miséria.

14. Que mensagem você deixa para os que querem empreender?

O caminho da empreendedora e do empreendedor costuma ser muito solitário. O medo de estar fazendo algo errado ou de investir mais no próprio negócio correndo o risco de abrir mão de todo o patrimônio é gigantesco. A notícia boa é que não precisa ser assim. Minha dica é começar pequeno e testar novos produtos, novas abordagens de venda, novos meios de comunicação e de divulgação com o mínimo de recursos possível. Você não precisa contratar uma agência de marketing digital para começar a testar suas vendas pelo Instagram ou WhatsApp. É possível começar pequeno, com a ajuda de amigos ou parentes, para só depois de validada a ideia buscar mais recursos financeiros. Empreender é o investimento de maior risco que existe e é por isso que também é a atividade que mais pode gerar valor e dinheiro no médio e longo prazo. Com disciplina e foco dá pra chegar muito longe começando com menos de R$ 1.000,00.

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