QUAL O SEGREDO DA “ECONOMIA” DAS STARTUPS?

As startups brasileiras receberam US$ 2,04 bilhões de investimento durante o primeiro trimestre de 2022, segundo a consultoria Distrito. O valor corresponde a 4% mais do que os US$ 1,96 bilhão levantados no mesmo período de 2021. Trata-se de um cenário extremamente oposto à crise econômica que estamos vivendo. Apesar de diversos sinais de retomada em vários setores, o segmento de startup passa longe da palavra crise, muito pelo contrário: por lá o que não falta é dinheiro, especialmente nos últimos anos.

Mas, como o mundo inteiro vive uma crise enquanto as startups batem recordes de investimentos e casos de exit, (nome dado ao evento de venda de startups)? Não é exatamente simples de se explicar, mas a principal resposta está na demanda que as startups atendem. Em resumo, elas fazem parte da solução da crise. A primeira metade do meu primeiro livro, Saída de mestre: estratégias para compra e venda de uma startup, é dedicada essencialmente a contar a história da rede de pontos de retirada Pegaki, que foi vendida para a Intelipost no início de 2021. O negócio, fundado em 2017, funciona da seguinte forma: ao comprar um produto pela internet, o consumidor pode escolher retirar em um ponto credenciado pela Pegaki, que pode ser qualquer comércio plugado à rede.

Quando veio a pandemia, mais ou menos em maio de 2020, as vendas por  e-commerce bateram recordes, e se vende tem que entregar. Mas como utilizar as redes de pontos sendo que quase todos os comércios físicos estavam fechados? Resposta: na rede da Pegaki, havia uma série de comércios considerados essenciais, como lojas de água, lavanderias e petshops. Em meses, a Pegaki saltou de 10 mil entregas para inacreditáveis 1 milhão de entregas.

Vale ressaltar que a Pegaki não foi a única. Entre julho de 2020 e julho de 2021, o iFood teve crescimento de mais de 193% no número de pedidos para compras em supermercados. Já no que diz respeito à delivery de comida, só em 2021, o aplicativo aumento a presença de pequenos e médios restaurantes em 27% e atualmente representam 84% dos mais de 270 mil estabelecimentos cadastrados. Já o lucro da empresa de videoconferências Zoom cresceu 1.123% só no trimestre de 2020. Esses são só alguns exemplos, eu poderia trazer milhões deles, mas a questão não é essa.

Startup não é apenas um nome da moda, é um novo modelo de negócio. De maneira resumida, são empresas que resolvem problemas de maneira mais simples, mais rápida e mais barata, geralmente apoiadas por alguma nova tecnologia. Enquanto a maioria das empresas enxergam problemas como obstáculos, as startups enxergam como oportunidade. Quanto maior for a quantidade de pessoas afetadas por aquele problema,  maior é a oportunidade de negócio.

Agora, se um problema é tão grande e complexo a ponto de não estar resolvido em pleno 2022, naturalmente ele vai demandar de muito esforço e criatividade para ser solucionado. Por essa razão, o ambiente das startups é diferente, gerido essencialmente pela autonomia. Além disso, a questão do investimento é determinante, uma vez que é preciso tempo e estrutura para chegar à solução do problema. Durante a pandemia, vivemos um período onde a demanda pelo digital falou muito alto e, não fossem as novas tecnologias, os impactos econômicos seguramente seriam ainda mais catastróficos para todos. É importante ressaltar que, mais do que nos atender na emergência, essas tecnologias aceleraram mudanças profundas em nosso estilo de vida, que o consumidor final aderiu.

Atentas a esse fenômeno, as grandes empresas tinham duas opções: promover as inovações necessárias ou comprar e investir nas startups que já comprovaram eficiência. O segundo caminho, muito mais rápido, foi escolhido. Para além da solução em si, uma das razões pela preferência por movimentos de aquisição reside na falta de talentos no setor de tecnologia. Basicamente, é um setor em que sobram vagas e falta mão de obra qualificada. Quando uma grande empresa compra essa startup, ela mata dois coelhos com uma cajadada só: além da solução, ela leva a estrutura e a cultura por trás daquela solução.

O fato é que estamos vivenciando o nascimento de uma nova economia, alimentada por novos hábitos, novas demandas e que exigem de nós uma nova postura. Ao longo da história, negar o avanço da tecnologia se mostrou tão eficiente quanto enxugar gelo. Tudo muda muito rápido e, seguindo a linha de Charles Darwin, “não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças”.

Eduardo Cosomano é jornalista, escritor e fundador da EDB Comunicação, agência referência em assessoria de imprensa e produção de conteúdo. Seu primeiro livro, “Saída de mestre: estratégias para compra e venda de uma startup”, foi destaque nos principais veículos de imprensa do Brasil, como Exame, Valor Investe, Folha de S. Paulo e o Estado de S.Paulo. A obra chegou a ocupar o 1º lugar entre os mais vendidos na categoria “Novos Empreendimentos” da Amazon durante o pré-lançamento e marcou presença no ranking de best-sellers da Revista Veja e do portal Publishnews.

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